Eu não me preocupo com a forma, não me preocupo com a cor, não me preocupo com o lugar. Praticamente não tenho essas preocupações estéticas. Quando vou fazer um trabalho, estou diante do material e me preocupo com as partes que se juntam, por exemplo, dois tons de feltro, ou uma camisa rasgada como um "voile."
[depoimento no vídeo "Com o oceano inteiro para nadar", direção de Karen Harley]
Eu odeio o mercado de arte... É horrível lidar com essas pessoas; imagina ter que entregar meus trabalhos para um filho da puta desses fazer exposição?! Eu quero que meus trabalhos levem a mim e não a uma conta bancária.
[entrevista]
SALGADO, Renata. (org.). Imagem escrita. RJ: Graal, 1999.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
O espelho de Rosa
Devia ou não devia contar-lhe, por motivos de talvez. Do que digo, decubro, deduzo. Será, se? Apalpo o evidente? Tresbusco. Será este nosso desengonço e mundo o plano - intersecção de planos - onde se completam de fazer as almas?
Se sim, a "vida" consiste em experiência extrema e séria; sua técnica - ou pelo menos parte - exigindo o consciente alijamento , o despojamento, de tudo o que obstrui o crescer da alma, o que a atulha e soterra? Depois, o "salto mortale"... - digo-o, do jeito, não porque os acrobatas italianos o aviventaram, mas por precisarem do toque e timbre novos as comuns expressões, amortecidas... E o julgamento-problema, podendo sobrevir com a simples pergunta: - "Você chegou a existir?"
Sim? Mas, então, está irremediavelmente destruída a concepção de vivermos em agradável acaso, sem razão nenhuma, num vale de bobagens? Disse. Se me permite, espero, agora, sua opinião, mesma, do senhor, sobre tanto assunto. Solicito os reparos que se digne dar-me, a mim, servo do senhor, recente amigo, mas companheiro no amor da ciência, de seus transviados acertos e de seus esbarros titubeados. Sim?
[O espelho]
ROSA, João Guimarães. Primeira estórias. 1 ed. especial. RJ: Nova Fronteira, 2005.
Se sim, a "vida" consiste em experiência extrema e séria; sua técnica - ou pelo menos parte - exigindo o consciente alijamento , o despojamento, de tudo o que obstrui o crescer da alma, o que a atulha e soterra? Depois, o "salto mortale"... - digo-o, do jeito, não porque os acrobatas italianos o aviventaram, mas por precisarem do toque e timbre novos as comuns expressões, amortecidas... E o julgamento-problema, podendo sobrevir com a simples pergunta: - "Você chegou a existir?"
Sim? Mas, então, está irremediavelmente destruída a concepção de vivermos em agradável acaso, sem razão nenhuma, num vale de bobagens? Disse. Se me permite, espero, agora, sua opinião, mesma, do senhor, sobre tanto assunto. Solicito os reparos que se digne dar-me, a mim, servo do senhor, recente amigo, mas companheiro no amor da ciência, de seus transviados acertos e de seus esbarros titubeados. Sim?
[O espelho]
ROSA, João Guimarães. Primeira estórias. 1 ed. especial. RJ: Nova Fronteira, 2005.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Delírios de Rimbaud
Para mim. A história de minhas loucuras. Há muito me gabava de possuir todas as paisagens possíveis, e julgava irrisórias as celebridades da pintura e da poesia moderna.
Gostava das pinturas idiotas, em portas, decorações, telas circenses, placas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos, ritmos ingênuos.
Sonhava com as cruzadas, viagens de descobertas de que não existem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião esmagadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes: acreditava em todas as magias.
Inventava a cor das vogais! - A negro, E brabco, I vermelho, O azul, U verde. Regulava a forma e o movimento de cada consoante, e, com ritmos instintivos, me vangloriava de ter inventado um verbo poético acessível, um dia ou outro, a todos os sentidos. Era comigo traduzi-los.
Foi um primeiro experimento. Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.
[Delírios, II, Alquimia do verbo]
RIMBAUD, Arthur. Uma temporada no inferno. POA: L&PM, 2006.
Gostava das pinturas idiotas, em portas, decorações, telas circenses, placas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos, ritmos ingênuos.
Sonhava com as cruzadas, viagens de descobertas de que não existem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião esmagadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes: acreditava em todas as magias.
Inventava a cor das vogais! - A negro, E brabco, I vermelho, O azul, U verde. Regulava a forma e o movimento de cada consoante, e, com ritmos instintivos, me vangloriava de ter inventado um verbo poético acessível, um dia ou outro, a todos os sentidos. Era comigo traduzi-los.
Foi um primeiro experimento. Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.
[Delírios, II, Alquimia do verbo]
RIMBAUD, Arthur. Uma temporada no inferno. POA: L&PM, 2006.
abrir o livro aleatoriamente 04
Cresci sob um teto sossegado,
meu sonho era um pequinino sonho meu.
Na ciência dos cuidados fui treinado.
Agora, entre meu ser e o ser alheio
a linha de fronteira se rompeu.
[CÂMARA DE ECOS]
SALOMÃO, Waly. Algaravias. RJ: Ed. 34, 1996.
meu sonho era um pequinino sonho meu.
Na ciência dos cuidados fui treinado.
Agora, entre meu ser e o ser alheio
a linha de fronteira se rompeu.
[CÂMARA DE ECOS]
SALOMÃO, Waly. Algaravias. RJ: Ed. 34, 1996.
abrir o livro aleatoriamente 03
Pensamento vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
ANTUNES , Arnaldo. Tudos. 6ª ed. SP: Iluminuras, 2001.
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
ANTUNES , Arnaldo. Tudos. 6ª ed. SP: Iluminuras, 2001.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
abrir o livro aleatoriamente 02
acabou a farra
formigas mascam
restos de cigarra
LEMISNKI, Paulo.la vie en close. SP: Brasiliense, 2000.
formigas mascam
restos de cigarra
LEMISNKI, Paulo.la vie en close. SP: Brasiliense, 2000.
abrir o livro aleatoriamente 01
sobressalto
esse desenho abstrato
minha sombra no asfalto
LEMISNKI, Paulo.la vie en close. SP: Brasiliense, 2000.
esse desenho abstrato
minha sombra no asfalto
LEMISNKI, Paulo.la vie en close. SP: Brasiliense, 2000.
abertura
mais um blog. o terceiro. este para acomodar a palavra dos outros. um depósito de referências. um arquivo de pensamentos alheios. uma "idéiateca". compilação. coletânea de textos. ou trechos de.
escritos de artistas, poetas, escritores, filósofos, estudiosos, pensadores e afins.
com títulos de postagens dados livremente por mim.
e com referência bibliografica, quando houver.
meus outros blogs:
http://www.incoseaquilos.blogspot.com/ , este com meus escritos criativos.
http://www.temnosotao.blogspot.com/ , este com meus escritos sobre arte.
escritos de artistas, poetas, escritores, filósofos, estudiosos, pensadores e afins.
com títulos de postagens dados livremente por mim.
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